sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ufanismo às avessas



Autor: Sd PM Jorge Luis França Costa*


Ufanismo ou simplesmente ufano, pra quem não sabe, é o ato de exagerar méritos ou enaltecer conquistas de um país, organização ou grupo de pessoas. Ele pode ser usado sem querer ou por um mero golpe publicitário. Um exemplo clássico de ufanismo publicitário é o hino da Copa de 70 que, de tão forte, ecoa até hoje, afinal quem nunca ouviu o “70 milhões em ação, pra frente Brasil...” que atire a primeira pedra e olhe que já passamos há muito da marca de 70 milhões de brasileiros.


Nós, policiais militares, no que se refere a nossa instituição, sofremos às vezes do que eu chamaria de “Ufanismo às avessas”. Exageramos o nosso lado negativo e o que é pior em algumas situações enaltecemos um lado aparentemente positivo que muitas vezes se reverte em uma imagem negativa, isso quando não exageramos o lado negativo mesmo. Quantas vezes não já ouvimos colegas falarem: “Sd fulano, é o cão chupando manga, ali corta no aço mesmo...”, “Cel beltrano é miserável... Ali bobeou ele comunica...”, “PFEM? São todas macetosas”, dentre outros “ecos falsos” que muitas vezes ouvimos por aí, alguns deles com um fundo de verdade (ou não), ou apenas baseados em uma experiência em particular.

Alguns costumam se enaltecer para o público externo com frases: “Eu pagar em Show? É ruim hein?”, “Comigo é assim: Desrespeitou, leva pau...” e por aí vai o terço dos exageros, que muitas vezes está longe de condizer com nossa realidade. Na contra mão deste aparente ufanismo externo, nas conversas de caserna, enaltecemos o negativo, o lado ruim de nossa profissão, aliás toda profissão tem seu lado ruim, tem os bons e os maus profissionais, o melhor e o pior local de trabalho, mas nós esquecemos às vezes disso, ou no mínimo ignoramos.

Nos meus poucos 7 anos de briosa não negarei que passei por bons e maus momentos, mas se hoje saísse da PM poderia dizer, sem sombras de dúvidas que foi aqui o melhor lugar onde trabalhei, onde fiz irmãos de curso, de farda, de armas, de espírito e, por que não dizer, de sangue, de suor e de lágrimas. E que seguramente se estivesse em outra profissão dificilmente encontraria tal nível de envolvimento.

O problema ao enaltecermos o nosso lado negativo está justamente quando estes comentários “vazam” para o público externo, àqueles que não têm conhecimento do lado positivo, ou até têm, porém, como nós, também o ignora. Talvez até mesmo no instinto que faz parte da natureza humana de saber que tem gente mais sofredora que eu, não é a toa que os programas sensacionalistas que enaltecem a miséria popular têm tão grande audiência.

É nesse momento que este veneno nos atinge em cheio. O feitiço se volta contra o feiticeiro. Quando vamos parar no Ministério Público acusados de abuso de autoridade, chacinas, assassinatos, tortura. E a imprensa sensacionalista nos condena, alimentada pela nossa própria propaganda pessoal, e a sociedade aplaude, também iludida às vezes por nós mesmos. Ou quando pairamos no imaginário popular como “justiceiros”, o “retadão”, o “xerife do mundo”. Isso quando não experimentamos o pior efeito deste veneno: A auto-ilusão de que somos o que propagamos. Que somos o Batman de Gotham City, ou o Super Homem da Metrópolis.

Outro dia fui tirar um serviço em um evento esportivo e comentei com um vizinho que logo me disse: “Oba! Vou entrar de graça”... Mal sabia ele que na última semana paguei o maior vexame na bilheteria de um cinema de um Shopping aqui de Salvador por que me negaram a meia entrada, dizem até que garantida por lei estadual aos PM´s da Bahia, e eu estava com o dinheiro contadinho.

Então parafraseando o dito: “Falem mal, mas falem de mim”, sugiro: “Falem mal ou falem bem, mas não vamos exagerar...”. Senão, no apagar das luzes, as maiores vítimas seremos nós.


Autor: Soldado PM Jorge Luis França Costa, lotado no Colégio da Polícia Militar, Dendezeiros.


*Os artigos publicados na Coluna "A Voz do PM" não refletem o posicionamento oficial da Polícia Militar da Bahia nos assuntos em questão. Se você for policial militar e desejar publicar seu texto nesta coluna, mande seu texto com nome, posto ou graduação, OPM e currículo resumido para dmt.midiasocial@pm.ba.gov.br

11 comentários:

  1. Otima observaçao do SD Jorge Luís.

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  2. Sinto-me honrado em chamar este policial de colega, mais ainda, em chamá-lo de amigo!
    Jorge, em tão pouco tempo na PMBA, tem uma legião de fãs, conquistados através das suas opiniões e da sua conduta ilibada.
    Grande abraço meu irmão!

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  3. PARABENS FUTURO COLEGA POIS EM SUAS PALAVRAS À MAIS pura verdade

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  4. Parabéns, colega essa é a mais pura verdade, temos muitas Glórias todos os dias, mas nós mesmos enaltecemos os fracassos de alguns momentos.
    É com pessoas como vc que mudaremos esse quadro.

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  5. É isso mesmo companheiro vivemos um verdadeiro ufanismo às avessa e, é sobre essas questões que temos que procurar mudar e mostrar para a sociedade que somos profissionais responsáveis e empenhados na manunteção da paz e ordem públicas.
    Recentemente vivenciei uma situação parecida com a sua, pois é, estava indo trabalhar e fui surpreendido pelo cobrador do ônibus ao me perguntar pra onde iria e que a passagem custava uma certa quantia, olha que não foi só eu que fiquei surpreendido, pois alguns passageiros ali presente ficaram se perguntando: e policial fardado paga passagem?
    Eu nem procurei ponderar. Paguei.
    De qualquer maneira passei para aquelas pessoas que presenciaram tal fato que, nós policiais somos iguais a qualquer outro cidadãos, assim, deixei por conta deles os julgamentos à respeito.
    Valeu mesmo companheiro.

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  6. É o que esse governo quer de nós: que exaltemos nossa profissão e joguemos debaixo do tapete todas as nossas mazelas. Os coronéis também têm interesse em nossa alienação.
    A PMBA só é boa para os coronéis, pois quando o governo cedeu aos procuradores e aos auditores, aumentando o sub-teto, eles foram beneficiados indiretamente. Ouvir um coronel falar é se transportar para uma galáxia distante, ou um mundo paralelo. A corporação é espezinhada pelos petistas, humilhada pela SSP, escorraçada pela sociedade, e ainda querem otimismo e esperança. Em algumas patentes estamos entre os três piores salários do Brasil, mas a cobrança é absurda. Continuamos sem coletes, armamento, viaturas, treinamento, assistência social, jurídica e psicológica. A carreira estagnada: sargento com 20 anos na mesma graduação, soldado com 21 anos de serviço, capitães com 12 anos no mesmo posto, e os coronéis esperando os sessenta anos pra sairem pela compulsória. Sejamos realistas.....

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  7. Concordo com Anônimo, mas infelizmente nem mesmo dentro da corporação somos valorizados. Os coronéis cada vez mais pensam em si e quem está na base aguente as consequencias. Falo isso porque nem os nossos honorários de ensino, que antes eram pagos na data certa, este mês não foi pago. Pego o meu carro, gasto o meu combustível e vou dar aula, porque gosto, mas também porque as minhas atividades são realizadas todas dentro da corporação. E o reconhecimento? Nenhum. Senhor Comandante Geral, fico triste, pois não ouvimos nenhum pronunciamento de V.Sª a respeito do atraso do pagamento dos honorários. Também eu não ganho como Coronel para me preocupar com dinheiro e nem me preocupar com os policiais. Por isso, Deus me permita nunca ser um Coronel de Polícia, pois os senhores deixam de ser policiais e passam a ser políticos e só olham para si mesmos. Acho que isso um dia vai mudar, novas gerações irão assumir o Alto Comando da Corporação e espero que com a mentalidade diferente dos senhores. Espero que não demore muito, mas algum parlamentar crie a lei de trinta anos, pois precisamos estar sempre oxigenando a corporação. Nenhuma empresa se sustenta com uma diferença tão grande de greacões. Temos hoje na PM Oficiais da década de 70, 80, 90, 00, 10, ou seja, cinco gerações porque os da década de 70 não largam o osso. Mas espero muito que isso um dia mude. 30 anos de serviço é o que queremos. Homens que pensem na instituição e não em si mesmos como são os nossos coronéis. Mas é isso mesmo, enquanto a realidade da PMBA não muda, os Oficiais continuam comendo chupa-molho e arroptando filé mignon. Tenho dito.

    Oficial ANÕNIMO, para não sofrer retaliações

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  8. a pm amigo sem exagero nao cuida do seu pessoal isso nem vc nem ninguem pode negar . isso e´forma dos policias desabafarem isso e´normal talvez vc conheçca pouco da realidade em que vivemos

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  9. É este blog, o unico lugar para o dezabafo dos policiais, uma das melhores maneiras de tapiar os praças e alguns oficiais, comentamos tudo que sentimos e como na vida real nunca temos respostas, kd os CABOS da PM, só no papel, vivemos em um eterno pessadelo, me acorde que eu agora já sou SGT e não mais um SD com 20 anos de policia,estagnado no mesmo lugar, saido todos os dias para o trabalho onde predo ladrão e traficantes e nunca fui reconhecido, nem mesmo pelo meu CMT,não quero acreditar que guando o policial esta doente seu salario baixa,quando um marginal tomba em troca de tiros eu tenho que pagar um advogado,quando me acusa de algo tenho que provar que sou inocente, e quem acusa não prova que sou culpado, me acorde que não sou mais um SD de 20 Anos de PM.

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  10. A música fala da população brasileira à época, que estava em torno de 90 milhões e não 70, só para corrigir sem desmerecer o texto.

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  11. É muito triste constatarmos que a PMBA está irremediavelmente falida. Não só pela falta de recursos e remuneração indigna, mas por que não há qualquer expectativa de melhora a longuíssimo prazo. Sem ascensão funcional, oficiais e praças passam anos sendo subutilizados nos mesmos postos e graduações. Qual a empresa pode ter sucesso se o funcionário passa 10, 15 ou até 20 anos no mesmo patamar profissional?
    Qual o estímulo que os policiais militares têm para se sentir motivados? O tratamento que recebemos é de verdadeiro assédio moral: temos que abdicar de nossas famílias, lazer, descanso, estudo, para não provocar a exoneração dos nossos comandantes.
    E os coronéis??? Esses são os piores; mentalidade ultrapassada, velhos (são motivo de chacota nas outras PM - os vovôs da Bahia), pobres de espírito, estagnados no século passado e se impondo pela intimidação e pela ameaça. Não possuem o menor escrúpulo em deixar a PMBA ser humilhada diariamente; não se ouvem suas vozes em defesa da corporação. Lamentável... Não se importam com o bem estar dos seus comandados; somos apenas instrumentos dos seus interesses particulares.
    Sistema perverso, que reproduz essas iniquidades.
    Não há no que acreditar...

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