Cap PM Marcos Vinício Vergne de Carvalho*
A Sua Santidade, o Dalai-Lama, num dos seus discursos intitulado "Uma ética para o novo milênio" imprimiu, com a simplicidade da sua sabedoria e a força do seu pensamento, uma marca que espero não seja apagada em minha alma. Lembrou-me, de forma sublime, o quanto substancial deve ser a ética em tudo que envolve a humanidade.
Das passagens ali contidas, uma delas me causa constante reflexão, até porque fala daquilo com que convivo há praticamente vinte anos nessa minha mais recente jornada terrena na busca pela libertação do ego. Dizia ele:
"Cabe observar que, hoje em dia, nossas forças policiais têm à sua disposição recursos tecnológicos que dificilmente poderiam ser imaginados há cinqüenta anos. Dispõem de métodos de vigilância que lhes permitem ver o que antes era impossível, podem utilizar testes de DNA, laboratórios especializados em medicina legal, cães farejadores e, evidentemente, pessoal altamente treinado. Contudo, os métodos criminosos evoluíram de forma equivalente, de modo que não estamos em melhor situação".Em seguida complementava:
"Quando falta a contenção que a ética impõe, não pode haver esperanças de superar problemas como o da escalada de crimes. Sem essa disciplina interior, verificamos que os próprios meios que usamos para resolver essas questões tornam-se uma fonte de dificuldades. A crescente sofisticação dos métodos policiais e criminais é um circulo vicioso".Naturalmente não pretendia o líder espiritual, a partir daquela reflexão, tentar explicar ou propor soluções para o problema do crime ou da segurança e, de igual forma, desconsiderar o entendimento dos cânones do conhecimento acerca da ética. Mas o que não podemos deixar de compreender é que o argumento nos alerta para uma questão fundamental, qual seja: é impossível construir ou manter qualquer processo de paz sem o envolvimento da ética.
Diariamente, nós, agentes da segurança pública, confrontamo-nos, por meio de mecanismos disponíveis, com debates, ensinamentos, pareceres, pronunciamentos ou opiniões acerca do que devemos fazer para que possamos garantir aos cidadãos melhores caminhos na busca da realização pessoal, o que poderia traduzir-se, sem atalhos, numa pretensão de manutenção ou conquista da felicidade terrena. E essa realização dos homens tem indiscutível ligação com a necessidade de preservar a vida, a liberdade, a propriedades e tantos outros bens.
Sem a pretensão de envolver-se na corrida pela formulação de métodos para a ação policial segundo certezas pessoais e/ou postulados da atividade cientifica, o Dalai-Lama, nunca propondo uma "verdade", apenas lembra com extrema sutileza do que poderia estar esquecido, ou seja, que a ética é o dever de casa, a mais importante lição, o primeiro motor da prática moral na sociedade, a luz essencial das boas intenções humanas e o invólucro de todas as ações que visam ao bem dos seres viventes compreendendo, até mesmo, os não viventes.
Acho que não seria demais cansativo reafirmar: "Quando falta a contenção que a ética impõe, não pode haver esperanças de superar problemas como o da escalada de crimes".
No mesmo fragmento do argumento ele afirma: "Sem essa disciplina interior...", lembrando ao leitor que a ética há de ser um constante e inadiável exercício para o indivíduo. Mas não um exercício orientado para os próprios fins e aspirações do indivíduo, mas sim uma prática que procura transcender os limites do interesse pessoal ou de qualquer classe, e que deve ser refletida e construída por cada consciência que busca a compreensão do Supremo Bem.
Como conclusão do argumento em análise, alerta: "A crescente sofisticação dos métodos policiais e criminais é um circulo vicioso". E aí podemos acrescentar, através dessa expressão, que os modelos científicos também reivindicam a incorporação da ética em seus princípios, para que não haja a possibilidade da própria ciência tornar-se motivo de angústia humana. Quiçá, se os construtores da bomba atômica refletissem, no âmbito de uma verdadeira ética, sobre a finalidade concreta daquela criação considerada um marco da ciência, talvez não tivéssemos que relembrar as dolorosas marcas de Hiroshima e Nagasaki.
Sem avançar mais no tema, fecho esse texto que não passa de um novo chamamento acerca do envolvimento da Ética em nossos assuntos. Em relação ao objeto em si, a Ética, o que é, o que devemos fazer, dentre outras abordagens mais particulares sob a luz, principalmente, do entendimento que envolve o homem contemporâneo, as suas instituições e a própria natureza que os circunda, poderemos nos alongar em reflexões seguintes, desde que, o interlocutor, que é merecedor dos melhores destinos, deseje seguir comigo essa jornada que pretendo pura, íntegra e de simples engrandecimento, e ainda consiste, como asseverou a Sua Santidade, o Dalai-Lama, em "uma responsabilidade que na verdade todos nós temos".
Muito obrigado, e que sejam bem vindas, para que possamos crescer, as refutações e demais considerações.
*Autor: Marcos Vinício Vergne de Carvalho é Capitão da PM-BA, graduado em Filosofia.
Os artigos publicados na Coluna "A Voz do PM" não refletem o posicionamento oficial da Polícia Militar da Bahia nos assuntos em questão. Se você for policial militar e desejar publicar seu texto nesta coluna, mande seu texto com nome, posto ou graduação, OPM e currículo resumido para dmt.midiasocial@pm.ba.gov.br
Parabêns Cap Vergne, belíssimo artigo. Tive o privilégio de ser aluno do Sr. na APM, como instrutor do componente curricular Filosofia.
ResponderExcluirSempre demonstrou uma compreensão diferenciada e profunda a respeito das problemáticas que ocorrem a nível, não somente profissional, mas sobretudo social. Além disso, o pouco tempo que passamos com o Sr. na APM foi suficiente para percebermos que tudo que foi dito nas aulas não foram simplesmente meras teorias e/ou hipocrisia, mas sim um exemplo de postura éticas e moral que o Sr. sempre demonstrou no tratamento que nos dispensou nos simples detalhes das relações interpessoais. Cap Vegne, obrigado por mais uma contribuição.
Um abraço!
"...o que mais me assusta na humanidade é que o homem vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse existido..."
Dalai-Lama
Capitão Vergner, obrigado por nos oferecer esta interessante discussão a despeito de tema tão delicado. Me parece tratar-se, por inacabada a anunciação, de alguma provocação que se desenha para daqui há pouco. Fico no aguardo do próximo capítulo.
ResponderExcluirPrezado Cap Verner,
ResponderExcluirÉ importantíssimo, se não essencial, tratarmos de questões maiores acerca da existência humana na nossa instituição. O "DEVER SER", ou seja, os reflexos das expressões humanas no seio dfa sociedade.Tratar dessas questões não é facil! torna-se potencialmente mais díficil quando o ambiente em que se tenta introduzir tal reflexão,(claro, por apresentar cacacterísticas epistemológicas próprias)não possui um FEED BACK positivo. Parabenizo-o pela iniciativa. espero que todos nós (PM) possamos refletir sobre esta questão que é germinal nas relações inter-pessoais e institucionais. Aafinal de contas somos "agentes disciplinadores", no ambiente social. que os "nossos policiais militares possam acordar do sono dogmático".
Parabens.
scritbuns nullus finis - A escrita não tem fim.
Prezado Marcílio,
ResponderExcluirFiquei muito feliz por suas palavras. Bom saber que fui compreendido por aqueles que me ensinaram a escutar, os meus alunos.
Talvez eu não esteja sugerindo um tema que possa interessar a muitas pessoas como salários, promoções e outras possibilidades de acumular mais “matéria”. Contudo, meu amigo, é isso que posso apenas oferecer: uma lembrança do que poderia estar esquecido, pois, numa uma época em que a razão obedece se articula segundo os próprios fins dos indivíduos, prefiro tentar compreender a ética pura e verdadeira.
Um forte abraço,
Cap Vergne
"(...)a ética é o dever de casa, a mais importante lição, o primeiro motor da prática moral na sociedade, a luz essencial das boas intenções humanas e o invólucro de todas as ações que visam ao bem dos seres viventes compreendendo, até mesmo, os não viventes.(...)"
ResponderExcluirCaro Vergne,
Sonho com o dia em que viveremos isto em toda a nossa Instituição.
Cap Fabiano
Ética é o comprimento fiel das normas, direitos ou senso comum estabelecidos dentro de uma sociedade, agindo dentro dos preceitos morais e com base nos principios administrativos.
ResponderExcluirCapitão ...
... más momo falar em ética na PMBA se o governo não cumpre com as suas obrigações? Aonde estão os direitos que os PMs tem? É certo trabalhar em festas na segunda folga e ganhar posteriormente uma folga como recompensa? É isso que é ética? É essa ética que os oficias aprende na academia Capitão e depois aplica na área?
Sinceramente o Governo e alguns integrantes da PMBA estão longe de apresentar um exemplo de ética para os policiais.
Sr. Cap.Vergne,
ResponderExcluirParabenizo pela apresentação deste excelente tema, o qual considero uma ferramenta fundamental para a solução das deficiencias humanas. Contudo, muitos dos nossos gestores, administradores lembram dela apenas antes de assumir um cargo. Tempo em que o poder ou o dinheiro corroe todos os principios da lealdade, e da verdade. Entendo que precisamos selecionar a dedo todos os dias homens comprometidos e sinceros, amantes da verdade e só assim teremos a etica em primeiro lugar solucionando as mazelas consumidoras da humanidade.
Forte abraço,
Alberto Magno - 1º Sgt PM
10ª CIPM/Candeias.