sábado, 13 de março de 2010

Não Somos Amados



Sgt PM R/R Edney Souza Rocha*


Um misto de contentamento e apreensão foi o que senti quando soube que um dos meus sobrinhos havia sido aprovado no concurso da PM. Imediatamente disse a mim mesmo que o procuraria depois para aconselhá-lo acerca do que significa ingressar na PM e das armadilhas impostas a um policial em início de carreira.

Pensando assim consegui adiar um pouco a preocupação e viver a satisfação de estar vendo surgir, talvez, uma nova geração de policiais na família Rocha.

Uma viagem no tempo


A conversa com o meu sobrinho me remeteu a um passado que, apesar de distante, ainda permanece fresco na minha memória: o meu tempo no CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), escola de formação de sargentos da PMBA.

Na primeira aula, depois de perguntar a respeito da profissão anterior de cada aluno individualmente, o oficial baixinho, gordo e de óculos dirigiu-se a mim, e, determinando que eu me levantasse, sentenciou:

- Você era radialista, aluno... e radialista é uma profissão simpática... as pessoas se divertem com os comentários engraçados oriundos do rádio ou acreditam nas coisas supostamente serias das quais falam os locutores. As pessoas os amam, amam as suas vozes propositadamente macias. E você abandonou uma profissão assim buscando ser "polícia"...

Tentei argumentar acerca do baixo salário que recebia e da questão da estabilidade de um emprego público etc, mas ele, de forma áspera e com o dedo ainda em riste muito próximo do meu rosto me impediu de continuar falando...

- Você foi corajoso... Mas será que você tem consciência dessa sua opção? Você sabe quem é que gosta de polícia meu rapaz? Ninguém gosta de polícia. Os seus amigos vão se afastar de você. A sociedade vai te olhar com desconfiança e a imprensa – sem sequer te ouvir - vai apenas te acusar quando alguma desconfiança pairar sobre ti. Você vai se sentir perseguido pelos governos, sejam eles de esquerda ou de direita. Vai ver o teu salário sendo achatado mês após mês, ano após ano. Nem mesmo a mulher do "polícia" acredita no "polícia", e isso você também vai perceber algum dia...

"Talvez apenas a mãe do 'policia' goste dele de verdade... talvez..." disse com voz cansada e semblante abatido enquanto se sentava por fim. Desconfiei naquela hora que aquele oficial dizia tudo aquilo muito mais para si mesmo. Era um desabafo que só muito tempo depois eu iria conseguir compreender de fato. "Será que tem mesmo que ser assim?!"

Parabéns

Mas, antes de qualquer coisa, eu precisava felicitar o meu sobrinho pela decisão de ingressar nas fileiras da PM. Precisava falar do orgulho e da dedicação que eu e todos os meus irmãos sempre dispensamos a nossa PM... Falar, com verdade, desse amor que aprendemos a sentir ainda com o nosso pai e antes mesmo de nos tornamos policiais.

Eu iria falar, também, do grande patrimônio da polícia: os seus policiais em todos os níveis hierárquicos. Contar estórias de valorosos companheiros que tombaram em combate na defesa da sociedade e que não está mais entre nós... E falar, também, de outros tantos que, por fraqueza, falta de orientação ou de caráter acabaram por enveredar pelo caminho do crime.

Também, por tudo isso, eu necessitava lhe assegurar de que deveria, sim, sentir orgulho da farda que iria vestir e falar um pouco do regozijo de salvar vidas e ver a alegria estampada nos rostos das pessoas após uma ação honesta e bem sucedida de uma equipe policial... Vou lhe dizer que essas ações não são esporádicas e nem raras; que longe das câmeras de televisão são cotidianas e rotineiras até...

E quando, finalmente, ele questionar acerca dos motivos da péssima imagem da corporação, apesar de tantas ações positivas, falarei acerca de uma doença maldita que mina a imagem da PM e compromete toda a corporação.

O tempo passou, o curso de formação teve seu início e eu quase que perdi o contato com o meu sobrinho. Mas agora no início da noite quando atendo a sua ligação falando da proximidade da formatura volto a me assustar: "Você precisa escutar aqueles meus conselhos com urgência!"

Clique aqui para ler todo o texto.


*Autor: Sargento da Reserva Remunerada da PMBA, tendo ingressado na Corporação no ano de 1985 obtendo a primeira colocação no Curso de Formação de Sargentos daquele ano.

Os artigos publicados na Coluna "A Voz do PM" não refletem o posicionamento oficial da Polícia Militar da Bahia nos assuntos em questão. Se você for policial militar e desejar publicar seu texto nesta coluna, mande seu texto com nome, posto ou graduação, OPM e currículo resumido para dmt.midiasocial@pm.ba.gov.br

4 comentários:

  1. Parabéns!!! Essa é a realidade de cada um de nós.

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  2. Parabéns ao autor deste texto 1º sargenteo Edney Rocha. Não contente apenas este início decidi ler todo o texto e descobri nele os valores morais e cívicos que devem permear toda a vida de um policial Militar. Fico feliz por haver pessoas que se preocupar em aconselhar da melhor forma possivel a nova geração de policial militar que está chegando, falo com o entusiasmo de um futuro policial que está a beira de realizar os testes admissionais e que pretende dentro desta instituição fazer a diferença, quer seja na PMBA, quer seja na sociedade (principalmente nesta).

    Cristiano Araujo Oliveira. Excedente 341 região 03

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  3. Está de parabéns, sargento. Belo texto.
    Quem ver o início e não continuar a leitura, com certeza, estará perdendo um bom texto.

    Se algum dia, for aconselhar alguém que vai entrar na PM, vou fazer desta forma. Com a exceção desse dissabor inicial que o senhor passou.

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  4. Parabéns Rocha, pelo excelente texto. A nossa PMBA, está carente de PMs como você, diria que policial como você é uma espécie em extinção, infelizmente, o que deveria ser regra, é exceção.
    Que Deus, o Senhor dos Exércitos, o abençoe sempre.

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