quarta-feira, 10 de março de 2010

Discriminação Nacional



Maj PM Carlos Henrique Ferreira Melo*


A revista Veja, edição 2.141, de 2 de dezembro do ano passado, publicou um artigo muito elogiado, inclusive por policiais, sob o título "sem medo da verdade", uma excelente matéria que demonstra a realidade sobre o que pensa a sociedade a respeito dos policiais militares e toda a carga de discriminação e preconceito por que passam.

No subtítulo "No rumo correto", buscando ressaltar a capacidade profissional de um oficial da Polícia Militar de Minas Gerais, consta a seguinte frase:

"Não fosse pela farda, o comandante da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Renato de Souza, 46 anos, em nada lembra um policial, gestos suaves, vocabulário preciso, ele parece mais um acadêmico. É quase isso.

Presença constante em seminários e congressos sobre segurança pública, Souza tem um currículo de tipo ainda incomum no Brasil, mas que começa a ser usual nas melhores polícias do mundo..."

Da análise do referido comentário, no mínimo, depreende-se que para o editor os policiais militares são semi-incultos, violentos e arbitrários, sendo incomum e raro que os profissionais de segurança pública possam ser educados e cultos.

Tal comentário, correspondente ao estereótipo existente no imaginário popular, inserido em uma publicação formadora de opinião representa uma demonstração explícita de preconceito e discriminação, que necessita de reparo imediato. Assim, na condição de policial militar, não me permito o silêncio sem promover os esclarecimentos que o caso requer.

O desconhecimento público do processo educacional dos policiais militares no Brasil, não raro, gera comentários dessa natureza, alimentados voluntária ou involuntariamente pela mídia. Em verdade, para nós, policiais militares, não se constitui novidade, em reuniões de trabalho, apresentações, encontros, seminários, ou até mesmo no convívio social ouvirmos elogios do tipo: "Você é muito educado, competente e inteligente. Nem parece policial!" Elogio ou ofensa?

Para ser um policial militar é necessário passar num dos concursos mais concorridos no país, em qualquer unidade da federação, constituído de exames intelectuais, psicológicos, médicos e físicos, para depois cursar, no mínimo, dez meses para ser soldado e três anos para ser oficial.

Os cursos oferecidos pelas Academias das Polícias Militares são considerados de nível superior, tanto que o exame para admissão é equivalente ao do vestibular, e após a conclusão do curso, o oficial, com o seu diploma reconhecido pelo MEC, pode matricular-se como aluno especial nas universidades públicas e privadas.

Cumpre ressaltar que ao ingressar na PM mais da metade dos aprovados, tanto nos cursos de formação de oficias como nos de soldados, já possuem nível superior ou estão em curso. Na Bahia, por exemplo, mais de 70% dos alunos do Curso de Formação de Oficiais possuem nível superior.

O processo de busca de conhecimento dos policiais não para por aí. Para terem acesso aos postos e graduações que constituem a hierarquia da Corporação, internamente são exigidos dois cursos de especialização "lato sensu" para os oficiais e um para os praças, em sua grande maioria efetivados em convênio com as universidades.

Bastaria uma pesquisa rápida, no próprio estado de Minas Gerais e nas outras unidades da federação, para que o nobre jornalista pudesse perceber que o currículo do Sr. Cel PM Renato Souza não é de um tipo tão incomum no Brasil.

Certamente, em todos os postos e graduações, do norte ao sul do Brasil, existem muitos homens e mulheres com o perfil pessoal e profissional do Cel. Renato, mas sem a visibilidade que o exercício do cargo de Comandante-Geral proporciona, pois, via de regra, os critérios usados pelos Chefes do Executivo para escolha dos que ocupam os cargos públicos do alto escalão governamental, em todas as áreas, inclusive na segurança pública, passam bem longe da competência profissional.

Se o nobre jornalista quiser prestar uma valiosa colaboração à segurança pública deste país, sugiro-lhe que seja mais cuidadoso com suas palavras e se quiser criticar, que o faça, velada ou explicitamente, aos "Donos do Poder", pois a eles cabem as críticas e a responsabilização pelas escolhas que fogem de tal padrão.


*Autor: Major da Polícia Militar da Bahia, comandante da 39ª CIPM, especializado “lato sensu” em Gestão Estratégica em Segurança Pública (CEGESP-UFBA), em Defesa Social e Cidadania – UFPA e professor da Academia de Polícia Militar do Estado e da UNEB.

Os artigos publicados na Coluna "A Voz do PM" não refletem o posicionamento oficial da Polícia Militar da Bahia nos assuntos em questão. Se você for policial militar e desejar publicar seu texto nesta coluna, mande seu texto com nome, posto ou graduação, OPM e currículo resumido para dmt.midiasocial@pm.ba.gov.br

8 comentários:

  1. convocação daqueles que tem processo com parecer favorável no crs já

    cfsd/2006 sub júdice

    convocação jáaaaaaaaaaaaaaaáaaaaaaaáaaaaaa

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  2. PMMG - 46 anos de idade; Coronel; Comandante-Geral.
    PMBA - 41 anos de idade; ainda Capitão; num "quartel" qualquer da Bahia.
    Onde encontrar motivação?

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  3. minas é um exemplo de postura, la abrem concursos publicos, depois chamam os candidatos, depois os convocam com um numero de tres vezes as vagas e por fim, todos vão trabalhar, ao não ser aqueles inaptos. o contrario do que acontece aqui na nossa querida e SOFRIDA bahia.

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  4. Sr. Cmt, por favor, nos tire essa dúvida cruel. O concurso para ingresso ao CFSd PMBA 2008 está em andamento, mas, pelo visto, a passos lentos. Então, gostariamos de saber algumas questões que ainda não ficaram claras:

    1ª A validade da empresa que é responsável pelo Psicoteste expira mês que vem. Como ficará os excedentes que se enquadrarem dentro das vagas após encerrado o porcesso dessa segunda lista?

    2ª O pessoal da terceira lista vai entrar no curso junto com o pessoal da 2ª ou formaremos uma turma posteriormente. Se entrarmos depois, isso seria antes das eleições?

    Por enqunto é isso.

    Agradeço desde já e espero respostas,

    Um excedente mais aliviado.

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  5. Plano de carreira para os praças, que iniciam na Corporação e quando estão com o pé na cova, ou seja, com 27 anos de serviço duro, lhes é dado um curso especial de Formação de Sargentos.
    Que motivação um praça tem?
    Besta é quem coloca sua cabeça na forca.

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  6. Vivemos igual a (santo) só na promersa, o salario vai almentar, vamos ser promovidos, a PEC vai ser aprovada, o ministerio publico vai ajudar a PM, a criminalidade vai diminuir,não vai haver escalas sofridas e degradantes sem remuneração(toda terça,sexta e final de semana pelorinho 0800)vai chegar viaturas e armamento e coletes novos,vai acabar o R quero, e a população esta acreditando mais em nós. Verdade mesmo é que esperamos promoção para Cabo desde antigamente mas os deputados vam aprovar(nunca, apenas para ir para reserva) como podemos ser cultos faculdade custa entre r$ 600,00 a 800,00 reais, ganhamos em torno de R$1.300,00 reais e como fica a escola dos filhos,roupa,sapato,gás,comida,remedio,material escolar,transporte,agua,luz. Somos o unico braço do estado que vive e entra na favela 24 horas por dia, espostos a todas as maselas(menegite dengue,gripe suina entre outros)sendo assistente social,juiz de paz,socorrista,advogado,tomando conta de defunto,sem nenhum apoio ou psicologo, se alguem passar por tudo isso e conseguir ser igual ao CEL de Minas, por favor mede a receita!

    ass: SD DE DEUS

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  7. Um texto excelente que apresenta aquilo que a sociedade ainda pensa da Polícia, sobretudo, a Policia Militar. Vale ressaltar que essa discriminação é acima de tudo uma questão cultural e que é fortemente apresentada internamente na corporação, ou seja, o desrepeito e a propria discriminação começa dentro da própria Instituição, não somente na questão educacional mais na questão de ver o policial de forma humana, como sendo um ser fruto da sociedade no qual está inserido. Para mudarmos o pensamento da sociedade não basta apenas termos nível superior e sim mudarmos nossas ações, mudarmos nosso processo arcaico de formação e principalmente nos respeitarmos enquanto Instituição necessária à sociedade.

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  8. Texto muito bom, um dos temas mais defendidos por mim no dia a dia, quando vejo alguém discriminando a instituição faço a maior questão em defender e mostrar quue existe em todo Brasil uma busca de melhorias e qualificação dos POLICIAIS, e que iremos colher os frutos em médio prazo. É fato, e contra fato não existe argumento, o efetivo policial principalmente os novos policiais estão muito mais qualificados, tinha policiais antigos que não sabiam nem redigir uma ocorrência.
    Lógico que o método de seleção que exige que o candidato para o cargo de soldado de polícia (pelo menos aqui na PMBA) tenha noção de DIREITO ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL, DIREITO PENAL, DIREITO HUMANOS, RACIOCÍNIO LÓGICO, PORTUGÊS, HISTÓRIA, GEOGRAFIA E REDAÇÃO já filtram muitos candidatos desqualificados.
    Lógico que nada é perfeito, para esse concurso mesmo existiu falhas e que com certeza quem esteve na frente deve melhorar, por exemplo: vi candidato que acertaram 38 questões e foram eliminados pelo critério da avaliação da REDAÇÂO uma prova subjetiva ( e dependia do avaliador ) já candidatos que nem se quer acertaram 30 questão e reparando no dia a dia a escrita dele qualquer um percebe que também não é tão bom assim na REDAÇÂO se classificou e já está em treinamento.
    sabe-se que o critério de seleção de policial na BAHIA e no BRASIL evoluiu muito... eu mesmo sou um dos que torcem para que um cidadão ingresse na PM ele tenha no mínimo nível superior, não que um candidato que não tenha nível superior não tenha competência para ser um policial. Ainda hoje na sociedade que vivemos as pessoas tem a imagem que policial é um sujeito mal treinado, ignorante, frustrado pelo péssimo salário que recebe, sem comprometimento e esquece que lá dentro existem pessoas que trabalham com amor e honra a farda que veste.
    Tenho colegas BACHAREIS EM DIREITO, ESTUDANTE DE ODONTO, BACHAREL EM ENGENHARIA, BACHAREL EM VÁRIAS AREAS COMO SOLDADO E AL OFICIAL.
    E para concluir , com a exigência de 3º grau ( consequentemente o aumento do salário ), INVESTIMENTOS EM TREINAMENTOS, RECURSOS HUMANOS, E MELHORIA DA SUA ESTRUTURA junto com outras medidas de melhoria e imagem da instituição vai ficar mais perceptível PARA A SOCIEDADE A VERDADEIRA MUDANÇA DO POLICIAL MODERNO.

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